O lipedema é uma doença crônica, progressiva e frequentemente subdiagnosticada, caracterizada pelo acúmulo anormal e simétrico de tecido adiposo subcutâneo, geralmente nos membros inferiores e, em alguns casos, também nos membros superiores. Diferente da obesidade, trata-se de uma condição que não responde de forma significativa à dieta ou ao exercício físico, e está associada a dor, sensação de peso, tendência a hematomas e impacto funcional e psicológico importante.
Diagnóstico clínico
O diagnóstico do lipedema é essencialmente clínico, baseado em anamnese detalhada e exame físico criterioso. Entre os achados mais característicos estão:
>>>Distribuição simétrica de gordura em membros inferiores e/ou superiores, poupando mãos e pés.
>>>Dor à palpação e aumento da sensibilidade do tecido.
>>>Presença de hematomas espontâneos ou com traumas mínimos.
>>>Desproporção corporal, em que a parte inferior do corpo é visivelmente maior que a superior.
>>>Evolução progressiva, muitas vezes agravada em fases de variação hormonal (puberdade, gestação, menopausa).
Exames complementares, como ultrassonografia e ressonância magnética, podem auxiliar na exclusão de diagnósticos diferenciais (linfedema, insuficiência venosa). Outro recurso que vem ganhando espaço é a análise por bioimpedância elétrica. Embora não haja ainda critérios universais de diagnóstico baseados nesse método, alguns estudos sugerem parâmetros de diferenciação entre lipedema e obesidade. No entanto, seu uso mais consolidado está no acompanhamento evolutivo, permitindo monitorar a composição corporal ao longo do tempo e avaliar resposta a intervenções terapêuticas.
Classificação conforme o local de acometimento
O lipedema é classificado em tipos anatômicos, conforme a região do corpo acometida:
Tipo I: acúmulo de gordura limitado ao quadril e região glútea.
Tipo II: acometimento da região dos quadris até os joelhos, com dobras características ao redor deles.
Tipo III: envolve quadris, coxas e pernas até os tornozelos.
Tipo IV: inclui braços, geralmente do ombro até o cotovelo.
Tipo V: afeta exclusivamente as pernas, do joelho ao tornozelo.
Essa classificação auxilia não apenas na descrição da doença, mas também na escolha da melhor estratégia terapêutica, incluindo abordagens conservadoras e cirúrgicas.
Classificação conforme grau de severidade
Além da localização, o lipedema também pode ser classificado de acordo com o grau de severidade, que reflete as alterações estruturais do tecido adiposo e a presença de complicações:
Grau I: pele lisa, tecido adiposo com consistência nodular fina (semelhante a “pérolas de sagu”).
Grau II: pele irregular, com depressões e saliências visíveis; tecido adiposo mais fibroso e nodulações de maior tamanho.
Grau III: deformidades importantes da superfície cutânea, com acúmulo volumoso e irregular de gordura, formação de grandes lóbulos e impacto funcional acentuado.
Grau IV: coexistência de lipedema com linfedema (lipolinfedema), apresentando edema persistente, fibrose e comprometimento ainda maior da mobilidade.
Importância da avaliação precoce
O reconhecimento precoce do lipedema é fundamental para evitar evolução para graus mais severos, nos quais há maior risco de complicações físicas e psicossociais. Além disso, permite instituir medidas conservadoras — como fisioterapia, uso de meias de compressão, controle do peso corporal e manejo da dor — e, quando indicado, planejar o tratamento cirúrgico (como a lipoaspiração).
Conclusão
O lipedema, apesar de frequente, ainda é pouco reconhecido, levando muitas pacientes a percorrerem longos caminhos até obter um diagnóstico correto. A correta classificação por tipo anatômico e grau de severidade, associada ao uso de ferramentas como a bioimpedância para acompanhamento evolutivo, é essencial não apenas para uniformizar a linguagem médica, mas também para orientar prognóstico e tratamento. O papel do médico é central nesse processo, garantindo acolhimento, esclarecimento e encaminhamento adequado, contribuindo para a melhora da qualidade de vida das pacientes.